quinta-feira, 10 de setembro de 2015

AYLAN, os outros e o resto.



                                                             O PEQUENO AYLAN
                                                           (e onde também se falará
                        da GRÉCIA; MIGRAÇÕES, MERKEL e da GUERRA e outras coisas)

Quando alguém anda de costas viradas ao mundo ou com cara de poucos amigos ou simplesmente triste utilizo por vezes uma frase redigida em termos jocosos - "La vie é belle; les hommes dãm cab del". No fundo a expressão  contem dois ingredientes, um de alegria; outro no sentido de que não sabemos ser alegres.
O que acabo de dizer é simplesmente a reflexo da enorme dificuldade que tenho em começar com o que pretendo transmitir; para exteriorizar o que perpassa o meu consciente e o meu saber, perante o que vejo, o que ouço dizer, o que fazem, e depois ....os personagens envolvidos pegam, numa coisa, num episódio ou num acontecimento, analisam-no isoladamente até ao tutano, e ficam por aí "a carpir mágoas ou tecer elogios", tirando os efeitos e consequências mais convenientes (e eventualmente inconvenientes para outros).
E no entanto, bem se sabe que no mundo dos homens nada acontece por acaso, e as coisas estão interligadas, sempre numa relação de causa e efeito. E o mais interessante de toda esta fenomenologia é que as consequências das acções praticadas são conhecidas e mesmo assim se persiste na causa, para depois - como acima referi - isolar o fenómeno e explora-lo até ao máximo para servir os interesses do explorador.
Vou tentar explicar-me melhor:
Que relação existirá entre o caso do AYLAN e a luta dos Tutsis e Hútus? Entre as lágrimas da Merkel face aos migrantes da Síria e a "guerra" da Troika para derrubar o Syriza, eleito democraticamente? Como justificar a situação de um quase nulo desenvolvimento infraestrutural de uma significativa maioria de países africanos após anos de independência e governos aí instalados que se proclamam de democráticos?
Existirá alguma ligação entre a migração que assola  Europa e o afã histérico pelas primaveras árabes, a guerra de Iraq, a destruição da Líbia, o Estado Islâmico e os bombardeamentos na Síria? O que e que as guerras, a conflitualidade religiosa, os golpes de Estado e os permanentes estados de tensão entre países tem a ver com o tráfico de droga, o petróleo, os diamantes ou a posse ou o controle de outras matérias primas?
É altura de regressarmos ao ponto de partida. As migrações são uma consequência. Este fenómeno relaciona-se sem sombra de dúvida com o factor (próximo) que envolve, como já deixamos claro,  o intervencionismo bélico a que assistimos no passado recente e continuamos ainda a assistir. Estas guerras tem sido sustentadas alegando razões como as de evitar ou combater o alastrar do comunismo; ou para defender ditaduras ou fazer regressar a democracia, sendo que a questão predominantemente se levante relativamente a países estratégicos ou ricos em matéria prima, ou ainda para beneficiar de uma mão de obra barata. No fundo do que se trata é de satisfazer os anseios de exploração dos grandes grupos económico-financeiros. Para este efeito, o capital, que não tem fronteiras e é capaz de vender "a alma ao diabo", engendrou um sistema apelidando-o de democrático, mas que funciona só em seu favor - ou seja, uma democracia formal. Os governos que então são "eleitos", onde o voto conta, é certo, mas onde também subjaz uma grande dose de manobrismo político e preconceituoso contra sistemas que afrontam a dinâmica capitalista (vide caso Syriza, na Grécia). Decorre assim que o governo ou as formações políticas saídas das eleições sejam aqueles  que os grupos financeiros querem. É dos livros que o capital financeiro precisa de terreno para se expandir. Daí a necessidade de conquistar espaços e mercados. E...auferir lucros e auferir lucros. Diga-se de passagem que não se trata apenas de lucros que se poderiam dizer ajustados à actividade desenvolvida, mas lucros que ultrapassam de longe as mais valias e cada vez maiores, onde a o humanismo é uma quimera. Daí a guerraEstas guerras tem sido fomentadas ou realizadas pelos EUA, através do mecanismo da NATO (o pacto de Varsóvia inexiste) mediante o  beneplácito, consentimento ou participação da União Europeia. Esta é a realidade dos factos. A Europa está a pagar por esta sua diatribe e falta de personalidade política.
Esta conflitualidade tem sido exportada e distribuída pelos continentes. Sem se referir à historiografia de guerras, basta dizer que agora coube à Europa arcar com as suas consequências, com inevitável reflexo na vida dos povos que a habitam. Outra é a questão de solidariedade e humanismo que ningém põe em causa. Os crocodilos que fiquem porém com as suas lágrimas.