quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O Homem de Arouca - o Bebé de Ourém

A criança entregou-se à polícia, depois do seu desaparecimento de 48 horas. É enternecedor ver fotos de três profissionais sorridentes (o que é pouco vulgar)  da GNR, um deles com a criancinha ao colo, felizes por a terem encontrado. Já o mesmo se não poderá dizer do homem de Arouca. Este anda a monte há mais de duas semanas, neste Portugal pequenino, apesar de equipas numerosas e devidamente preparadas da GNR e da PJ andarem à sua procura. O homem nem se entrega nem é encontrado. 
Dá que pensar. Diga-se à partida que ninguém põe em causa a formação e a capacidade das nossas forças policiais. Porém neste específico caso pode bem equacionar-se o porque das coisas.Falou-se primeiro de falta descoordenação, o que foi logo desmentida. Então do que se trata: - ineficácia? - incompetência? O que não falta porém é o amplo noticiário que se tem seguido nos órgãos de comunicação social - ela é a GNR a apreender dezenas de toneladas de droga; é a PJ a ter que lidar com centenas de desaparecimentos de pessoas; é a PSP e a PJ a fazer buscas num bairro da cidade em Coimbra são os responsáveis superiores das polícias que dão conta amiúde das aturadas actividades encetadas no exercício da função; são as armas que se apreendem, e assim por diante.
 
Já deixei claro que a polícia não tem de se justificar. Ela vale pelos resultados que apresenta em matéria da segurança interna. Basta diz que este insucesso policial tem gerado, não direi pânico, mas um profundo medo por parte da população local. Note-se que não estamos perante um caso de investigação mas de perseguição através de um aparelho montado para prender um presumível criminoso que anda por aí. Chega-se a aventar a hipótese do fugitivo ter apoios locais, por onde passa (se é que passa).
 
E é aqui que a problemática assume um aspecto que merece atenção. É o facto da população se empenhar também na sua própria defesa, tendo por interface a que é uso chamar-se policiamento de proximidade. Já há anos que tenho vindo a suscitar este aspecto formativo em matéria de segurança de populações, mas em vão: ora, pelo desinteresse político, ora, pela própria oposição das forças de segurança  que entendem  ser  capazes e suficientes neste domínio. Vê-se. Outros há que temem tratar-se de milícias populares. Se assim fosse, países como a Inglaterra, Austrália, USA, França, Holanda entre outros, onde existe este tipo de policiamento teriam que estar abrangidos por este eceio.
O policiamento de proximidade (community policing - nos países anglo-saxónicos e policiamento de proximidade nos países mediterrânicos e alguns do norte de Europa) tem de ser um projecto nacional a dimanar da Assembleia da República. Este tipo de policiamento tem de ser fomentado pelas comunidades locais. É um anacronismo e improdutivo quando este tipo de policiamento parte como iniciativa da própria instituição policial - é o que acontece no nosso país. Por isso inexiste um policiamento de proximidade em Portugal apesar de entidades de segurança a ele fazerem alusão. Houvesse este tipo de policiamento e a população de Arouca e das redondezas não teriam que passar por esta desilusão e trauma.  

Sem comentários:

Enviar um comentário