sábado, 27 de julho de 2019

O FANTÁSMA DO INCÊNDIO NA FLORESTA

                                       O FANTASMA DO INCÊNDIO NA FLORESTA
  - É algo grotesco estar a titular desta forma ao que acaba de ocorrer em matéria de incêndios (com particular destaque a Vila de Rei e Mação). Mas outra expressão seria descabida após as pomposas afirmações, propósitos e programas delineados e traçados no rescaldo do acontecido em 2017 em Oliveira de Azeméis, e no seguimento do que, o ano de 2018, longe de servir de um tempo catalisador para o acerto de soluções nesta matéria, tudo parece ter regressado à estaca ZERO, à exceção do valioso trabalho e empenho dos bombeiros. 
  - A problemática de incêndios florestais é sem dúvida complexa e apetece chamar, não sem razão, nomes pouco apropriados às superestruturas governamentais e da defesa civil, pela inépcia e ineficácia demonstradas no combate às chamas. Foi triste ver o Ministro de Administração Interna acolher-se sob a capa de que estava em investigação a origem criminosa do fogo para justificar a dimensão do fogo, ou o Presidente da Defesa Civil, sem enjeitar as responsabilidades, a referir que os "homens" faziam o que podiam, naturalmente pensando também naqueles populares desesperados, munidos de vulgares mangueiras de jardinagem e baldes a tentarem salvar o pouco das suas pertenças.
  - Não tenho capacidade nem conhecimentos técnicos para tecer considerações críticas sobre como deve ser feita a manutenção de florestas ou formar uma frente contra os incêndios florestais. O que posso é, como cidadão preocupado e observador, destacar aspetos que contribuam objetivamente para evitar este flagelo, pelo menos numa base de sustentabilidade - o que não tem sido observado.
 Assim:
* Tratando-se de um incêndio florestal o que está em causa é a imperiosidade de o extinguir o mais rapidamente possível, com o menor dano, quer para a floresta, quer para o do cidadão, (habitação e haveres), quer para a localidade onde o fenómeno ocorre. 
* Embora sejam expectáveis futuros incêndios (este ano e em anos vindouros) apesar da área sujeita a este flagelo ir gradualmente definhando (i.e. menos terreno para arder), o que urge é assegurar a capacidade e a forma eficaz de o combater. O rescaldo que acaba de se verificar demonstra que tal eficácia não existiu ou ficou muito aquém do desejável. E esta é uma responsabilidade solidária do MAI e dos Municípios. Vejamos porque:
* Para justificar este triste rescaldo, aponta-se a circunstância de se ter tratado de fogo posto por mão humana. Cumpre dizer a este respeito, que o facto do incêndio florestal ser de origem criminosa (por negligência ou dolosa) não tem a virtualidade de agravar as consequências do incêndio, nem justifica qualquer défice no seu combate. A base criminal do feito tem a sua sede própria de ajuizamento no tribunal, o que nada tem a ver com a eficiência com que o incêndio tem de ser combatido.
* Um último considerando prende-se com a natureza preventiva do combate ao incêndio florestal. Do que tem sido divulgado, está demonstrado que não existiu ou tem sido significativamente desleixada a efetiva fiscalização e cumprimento em matéria de limpeza de terrenos no que toca à eliminação dos materiais de combustão (tipo erva rasteira e outros), existentes, quer em terreno florestal, quer ao longo das estradas e caminhos, quer próximo das habitações - fatores esses. muitas vezes geradores ou propulsionadores do flagelo de incêndios. Esta é uma tarefa que, ao longo do ano, tinha que ser exercida e primar pela sua imediata executoriedade. Poderia não evitar o incêndio mas seguramente iria contribuir para reduzir as suas proporções. As Juntas de Freguesia e à GNR tem uma palavra a dizer a este propósito.
É possível por termo a esta "ópera" ou pelo menos torná-la menos espetacular.        

quarta-feira, 6 de março de 2019

A CRISE DA IGREJA e/ou A INEFICÁCIA DO SEU RITUAL DOUTRINÁRIO


A cimeira da Igreja Católica presidida pelo Papa Francisco a 21 de Fevereiro de 2019 sob o tema " A protecção dos menores na Igreja" reveste-se, sem dúvida, de um marco ímpar no  historial da Igreja Católica, algo semelhante à sua "mea culpa" e pedido de perdão pela Inquisição. Nesta cimeira que congregou, além do mais, 190 Presidentes de Conferências Episcopais, esteve em debate analítico o sem número de casos de abusos sexuais de menores praticados, atribuídos ao clero, no meio dos quais se pode destacar exemplarmente dois cardeais: - Theodoro Mc Carrick, E.U.A, expulso da hierarquia eclesiástica e - George Pell, de Austrália, detido, acabado de ser condenado pela justiça desse país num cômputo de 50 anos de prisão (de notar que este cardeal, era o nº 3 do Vaticano, tendo ocupado a pasta de Economia entre 2014-2017. De insólito, tem no seu  palmarés a violação de 5 jovens, entre estes, um de 13 anos, actos, pelo menos um deles, praticado nos recintos da Catedral de Melbourne).
Pelos vistos, dada gravidade do temática a que a Cimeira se destinava, não terão relevados outros casos do género, como as violações de maiores, o lesbianismo em conventos e colégios de freiras, os artifícios para alcançar favores sexuais e outras situações do género, a comprometer invariavelmente  as "virtudes" de que o clero se proclama personificar como representantes do "divino".
O rescaldo da Cimeira, que durou, salvo erro, 3 dias, saldou-se na indicação de 8 ideias conclusivas (1 - Protecção de Menores, 2 - Seriedade impecável, denúncia à autoridade, 3 - Uma verdadeira purificação. 4 - A formação, 5 - Reforçar e verificar as directrizes de Conferências Episcopais, unidade de acção, 6 - Acompanhar as pessoas que sofrem de abusos, 7 - o mundo digital, 8 - O turismo social.) - itálicos meus. Trata-se, sem dúvida, de um alinhamento de boas intenções, traçando rumos para actuações programáticas para o "doravante". São, no entanto, pouco garantísticas de que sejam de molde a evitar maledicências no futuro. Na verdade, a Cimeira limitou-se a constatar e reconhecer o que era evidente e não podia ser ignorado.
Ficou por definir o porque das coisas, donde vinha o envolvimento, a inclinação dos responsáveis pela acção da Igreja ou seja, enquanto as causas do fenómeno não forem difundidas e eliminadas, é manifesto que este corre o risco de se repetir. Será que a Cimeira não estava consciente dessa omissão? Tudo leva a supor que esta consciência existia, Na verdade, ir ao fundo do problema envolveria ter que tomar posição sobre questões como o celibato, o confessionário, a razão divina sobre específicos comportamentos humanos, o secretismo, a indiscutibilidade das opiniões do prelado a infalibilidade da igreja(!) e outros do género.  
Ao assim proceder, a Igreja deixa em aberto a posição a assumir perante a validação do projecto doutrinário de que a religião católica diz representar. E a indagação é tanto mais pertinente quanto é certo estarem envolvidos neste projecto os mais altos dignatários da Igreja, alguns deles com responsabilidades não só institucionais mas de representação. E então interroga-se: se assim é, qual é a força, o impulso da regra doutrinária desta corrente religiosa? Se não foi capaz de disciplinar e convencer os seus próprios dignatários e responsáveis, como, poderá arrogar essa disciplina no amplo contexto do seus crentes? E no plano subjectivo dos ritualistas da Igreja, pergunta-se: com que tipo de valoração e força ética podem clamar e exigir do fiel ou crente que lhe obedeça, se ele próprio demonstra que a doutrina religiosa que professa não foi capaz de o transformar para o Bem que proclama? Já lá vão os tempos em que se acreditava no " faz o que te digo, não faça o que faço". Aliás, é neste fundamento que reside a perda de substância na prática religiosa, sendo cada vez mais crescente o número dos que se dizem incoerentemente "católico não praticante", imperando neste campo o culto do mero formalismo religioso, até por conveniência própria ou social.
Entendo, por isso, que fica aqui posta em causa a força de convicção derivada da crença  que o prescrição religiosa pretende arrogar-se. Atente-se que não estão em causa os valores que a religião em apreço diz defender. São no entanto valores que qualquer filosofia ou corrente ético-social preceitua, sem que para tanto se tenha que se abalançar a um patamar do transcendente, espiritual ou metafísico, de crença ou . de crendice.
De tudo o que se disse, fica em aberta a sensação em como a Igreja não foi mais longe neste cimeira, porque se o fizesse colocaria os seus pilares num equilíbrio instável~. E por cá fico.