quarta-feira, 6 de março de 2019

A CRISE DA IGREJA e/ou A INEFICÁCIA DO SEU RITUAL DOUTRINÁRIO


A cimeira da Igreja Católica presidida pelo Papa Francisco a 21 de Fevereiro de 2019 sob o tema " A protecção dos menores na Igreja" reveste-se, sem dúvida, de um marco ímpar no  historial da Igreja Católica, algo semelhante à sua "mea culpa" e pedido de perdão pela Inquisição. Nesta cimeira que congregou, além do mais, 190 Presidentes de Conferências Episcopais, esteve em debate analítico o sem número de casos de abusos sexuais de menores praticados, atribuídos ao clero, no meio dos quais se pode destacar exemplarmente dois cardeais: - Theodoro Mc Carrick, E.U.A, expulso da hierarquia eclesiástica e - George Pell, de Austrália, detido, acabado de ser condenado pela justiça desse país num cômputo de 50 anos de prisão (de notar que este cardeal, era o nº 3 do Vaticano, tendo ocupado a pasta de Economia entre 2014-2017. De insólito, tem no seu  palmarés a violação de 5 jovens, entre estes, um de 13 anos, actos, pelo menos um deles, praticado nos recintos da Catedral de Melbourne).
Pelos vistos, dada gravidade do temática a que a Cimeira se destinava, não terão relevados outros casos do género, como as violações de maiores, o lesbianismo em conventos e colégios de freiras, os artifícios para alcançar favores sexuais e outras situações do género, a comprometer invariavelmente  as "virtudes" de que o clero se proclama personificar como representantes do "divino".
O rescaldo da Cimeira, que durou, salvo erro, 3 dias, saldou-se na indicação de 8 ideias conclusivas (1 - Protecção de Menores, 2 - Seriedade impecável, denúncia à autoridade, 3 - Uma verdadeira purificação. 4 - A formação, 5 - Reforçar e verificar as directrizes de Conferências Episcopais, unidade de acção, 6 - Acompanhar as pessoas que sofrem de abusos, 7 - o mundo digital, 8 - O turismo social.) - itálicos meus. Trata-se, sem dúvida, de um alinhamento de boas intenções, traçando rumos para actuações programáticas para o "doravante". São, no entanto, pouco garantísticas de que sejam de molde a evitar maledicências no futuro. Na verdade, a Cimeira limitou-se a constatar e reconhecer o que era evidente e não podia ser ignorado.
Ficou por definir o porque das coisas, donde vinha o envolvimento, a inclinação dos responsáveis pela acção da Igreja ou seja, enquanto as causas do fenómeno não forem difundidas e eliminadas, é manifesto que este corre o risco de se repetir. Será que a Cimeira não estava consciente dessa omissão? Tudo leva a supor que esta consciência existia, Na verdade, ir ao fundo do problema envolveria ter que tomar posição sobre questões como o celibato, o confessionário, a razão divina sobre específicos comportamentos humanos, o secretismo, a indiscutibilidade das opiniões do prelado a infalibilidade da igreja(!) e outros do género.  
Ao assim proceder, a Igreja deixa em aberto a posição a assumir perante a validação do projecto doutrinário de que a religião católica diz representar. E a indagação é tanto mais pertinente quanto é certo estarem envolvidos neste projecto os mais altos dignatários da Igreja, alguns deles com responsabilidades não só institucionais mas de representação. E então interroga-se: se assim é, qual é a força, o impulso da regra doutrinária desta corrente religiosa? Se não foi capaz de disciplinar e convencer os seus próprios dignatários e responsáveis, como, poderá arrogar essa disciplina no amplo contexto do seus crentes? E no plano subjectivo dos ritualistas da Igreja, pergunta-se: com que tipo de valoração e força ética podem clamar e exigir do fiel ou crente que lhe obedeça, se ele próprio demonstra que a doutrina religiosa que professa não foi capaz de o transformar para o Bem que proclama? Já lá vão os tempos em que se acreditava no " faz o que te digo, não faça o que faço". Aliás, é neste fundamento que reside a perda de substância na prática religiosa, sendo cada vez mais crescente o número dos que se dizem incoerentemente "católico não praticante", imperando neste campo o culto do mero formalismo religioso, até por conveniência própria ou social.
Entendo, por isso, que fica aqui posta em causa a força de convicção derivada da crença  que o prescrição religiosa pretende arrogar-se. Atente-se que não estão em causa os valores que a religião em apreço diz defender. São no entanto valores que qualquer filosofia ou corrente ético-social preceitua, sem que para tanto se tenha que se abalançar a um patamar do transcendente, espiritual ou metafísico, de crença ou . de crendice.
De tudo o que se disse, fica em aberta a sensação em como a Igreja não foi mais longe neste cimeira, porque se o fizesse colocaria os seus pilares num equilíbrio instável~. E por cá fico.