quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

PERIGOS QUE ESPREITAM A HUMANIDADE - O FUTURO DIRÁ

                      

                   PERIGOS QUE ESPREITAM A HUMANIDADE -               

                                                                          - O FUTURO  DIRÁ.                                                                                   

  Segundo previsão de astronomia o mundo tem hipoteticamente ainda um espaço temporal de 5 biliões de anos. Por esta altura o Sol, transformado num gigante vermelho deixará de transmitir calor ao nosso planeta. Outras causas longínquas independentes da ação humana poderão perigar o planeta nada havendo a fazer contra este fenómeno. Porém, o metafórico Relógio de Apocalipse, pelo 3º ano consecutivo, marcava 90 segundos para a meia-noite, como o limite temporal para o fim da humanidade, face à ameaça de alteração climática conjugada com o uso do nuclear. (cfr. Bulletin of the Atomic Scientists). .           

Neste escrito, cuida-se assim, não do perigo para a humanidade derivado duma causalidade exógena, mas do que pode ocorrer por ação do homem. Pensava eu que o séc. XXI seria a expressão qualitativa de desenvolvimento social, económico e cultural do mundo. Os avanços cientificamente alcançados, as conquistas na tecnologia, a preocupação com a longevidade humana, o impacto da luta pelo reconhecimento de direitos humanos, as manifestações contra a nociva alteração climática, os encontros internacionais visando o desanuviamento de conflitos e surgimento de organizações e alianças entre Nações, pareciam augurar propósitos para uma convivência comunitária sem hostilidade, amante de paz, num contexto em que o diálogo e a diplomacia seriam a base para a solução de qualquer conflitualidade entre comunidades e/ou Nações. 

Porém, a realidade que presentemente se  vive contradiz a bondade da expectativa criada. O mundo parece andar às avessas, retroagindo em muito nos propósitos e objetivos que vinha traçando para o bem da humanidade. A máxima " homem, lobo do homem", nunca esteve tão próxima de realização como hoje, fazendo tábua rasa de tudo quanto de positivo foi alcançado para a harmonia em sociedade

Vejamos: O mundo confronta-se presentemente com duas guerras, - uma na Europa e a outra no Médio-Oriente. A 1ª decorre de uma agressão da Rússia contra a Ucrânia e a 2ª da reação do Estado de Israel primeiramente contra o ato terrorista do Hamas, que se degenerou num ataque contra o povo Palestiniano. Os efeitos da 1ª fazem-se sentir na carestia da vida sentida na Europa, enquanto a 2ª acaba de merecer, por decisão do Tribunal Penal Internacional (16.01.2024) a recomendação para Israel se afastar do percurso de genocídio do povo palestiniano pela forma como tem vindo a proceder. Estes dois acontecimentos, as partes neles envolvidas, as motivações que às mesmas subjazem, o ânimo e a forma como se desenrolam e as consequências até agora conhecidas permitem dar conta dos marcadores que irão determinar o provir da humanidade, se os povos, as Nações e respetivos políticos responsáveis não se reajustarem determinando-se e se orientando por valores éticos sociais de convivência humana num mundo que mereça a pena viver.

A mera ocorrência de guerras na atualidade, merece uma profunda reflexão no quadro de relação e convívio entre Nações, tendo por base o significado e o paradigma de vida contextualizado pelas exigências que a evolução da natureza e a formação humana pressupõem. Este processo assume particular relevância numa altura em que a demanda pelo respeito aos direitos humanos assume o ponto mais alto de exigência. "É preciso inventar novas palavras para este universo que faz parecer o mundo orwelliano um conto de fadas. A hipocrisia, a falsidade, a subversão de valores, a desumanidade, o engano, a demagogia, já não traduzem o que se passa nestes tempos de estertor imperialista". Sem questionar a valoração que certas grandezas como a soberania, a integridade territorial ou a autodefesa merecem, impõe-se, no entanto, a indagação sobre os limites da ação bélica, em matéria do estrito respeito pelo direito internacional, pelo acatamento das deliberações de organismos internacionais, nomeadamente a ONU e finalmente quanto à ética que deve imperar na relação social e comunitária. 

Militarismo, Religião e Política/Economia, são os 3 vetores que conjugadamente fazem perigar a humanidade quanto ao seu futuro. A) Sem por em causa a existência de um corpo militar e consequentemente uma produção  armamentista para efeitos meramente defensivos a nível nacional de cada País, a atualidade tem vindo a demonstrar que o militarismo, tem vindo a afirmar-se crescentemente como fator de desestabilização entre as Nações. Os Blocos Militares, enquanto materialização mais evidente desta tendência, assumem uma postura ofensiva, comprometendo por isso mesmo, a livre escolha de uma Nação, nele inserida, quanto à sua existência como país soberano. Nenhum país ou povo deseja a guerra. A evolução intelectual e anímica da sociedade humana globalmente configurada é adversa a qualquer conflito bélico. A guerra gera destruição, miséria, desgraça, e refugiados, jamais tendo resolvido qualquer problema que se propusesse resolver. O militarismo, enquanto teorização de controlo sociopolítico institucionalizado é responsável pelo permanente estado de tensão que opõem Nações entre si, bastando para tanto uma qualquer motivação para intervenção militar, envolvendo avultados custos a todos os níveis, materiais, financeiros e humanos. Se, por um lado, desfruta da maior parte orçamental do Estado, a verdade é que a indústria armamentista é o maior suporte  da força económica do país fornecedor, muitas vezes com fenómenos de corrupção à mistura, face às grandes movimentações de dinheiros que envolve. B) " A religião é o ópio do povo". Proferida isoladamente, a frase soa a rebelião e o anti misticismo. São, no entanto,  conhecidos e bem patentes os recentes dados, pouco abonatórios a cerca do intervencionismo das religiões, ora sob a capa de um chauvinismo doutrinário, ora sob a forma de um proselitismo missionário, ora sob a modalidade de um conformismo de vida em sociedade. A este considerando não escapa o Catolicismo (crf. a propaganda contestatária após o 25 de Abril e o monumento de pedras do Muro de Berlim à entrada de Fátima); as variantes do Cristianismo no apoio a candidaturas da extrema - direita); as organizações terroristas islamitas- sic. Daesh; Isis; Talibãs e outros) e as Teocracias, Reinos e ditas, "Republicas" ou Estados Islâmicos do Médio Oriente, Africa e e da Ásia; e ainda a mais recente ativação da "Hindutva", que pretende reduzir toda a realidade social e cultural da Índia com a supremacia do Hinduísmo sobre as outras religiões, nomeadamente o Islamismo e o Cristianismo. O problema da influência das religiões nas sociedades humanas é altamente melindroso e perigoso, já que foge ao controlo racionalizado do comportamento individual ou grupal, A determinante metafísica será sempre aceitável desde que não fanatizada. C) Se a política é a arte do possível, esta nunca deve ser de molde a atentar contra a idoneidade existencial de um regime democrático. Há pelo menos duas formas de o viciar - ora, deturpando o sentido político do social, adotando medidas do liberalismo descontrolado ou seguir a via de libertinagem comportamental, ora, sob a sua cobertura, formatar o autoritarismo político. Qualquer destas posturas é propícia a gerar extremismos de direita ou da esquerda, empurrando as sociedades e Nações para o descontrolo político, dando origem a desmandos, insegurança, formas de xenofobia e racismo sob o disfarçados de patriotismo ou nacionalismo serôdio.  Há pois que saber distinguir o trigo do joio. Foi invocando o socialismo que surgiram os autoritarismos, pela via de eleição, personagens como Hitler e Mussolini (mais recentemente o Narendra Modi, Benjamin Netanyahu). Seria caso para perguntar e indagar, se nesta vertente, o eleitor, ao lançar o seu voto, elegendo um determinado personagem político, terá ou não a sua quota parte de culpa no estado a que o mundo chegou.. Não é de descurar os caminhos que vão traçando o rumo a políticas do extremismo da direita, como sucedeu na Argentina (Milei) e ameaça acontecer na Alemanha. Nos EUA, a incoerência da política seguida por Biden, nomeadamente, ao gerar contextos de provocação e de tensão no estreito de Taiwan, sustentando o envolvimento da Nato, designadamente em paragens que nada tem a a ver com o 'North Atlantic' ou apoiando a "legítima defesa" do Estado de Israel, quando este tem n Resoluções do Conselho de Segurança da ONU por cumprir, (esta incoerência) tem vindo a ser ser capitalizada pelo republicano extremista Trump. Neste enquadramento, não passa despercebido que,  salvo raras exceções, uma grande parte, senão mesmo a maioria dos responsáveis políticos, está ligada ao grandes empresariado, ou seja ao grande capital, sendo que é à volta desta ligação que gira a vida económico/social, expressa no fenómeno de alta corrupção, envolvendo entre outras atividades, as transferências offshore. Esta contextualização é particularmente gravosa porque sendo quase generalizada, desde a Europa, passando pelas Américas e atingindo Àfrica e o Extremo Oriente, tem ramificações numa grande parte das elites políticas ou economicamente dominantes dos países em desenvolvimento.

O mundo vive inquieto. Aqui chegados, torna-se por isso mister indagar o que falhou e como é possível readquirir material e animicamente o sentido de uma vivência tranquila e feliz. É sabido que nem sempre as coisas correm de feição desejada, mas nada legitima que daí se enverede pela via de conflito e violência. Impõe-se que se respeite a inteligência humana, se considere a atualidade do séc. XXI e a dignidade do direito humano à vida.

O homem é, por natureza, um ser gregário e frui do direito ao convívio e o bem estar. Neste sentido tudo o que contribua para o antagonismo ou o choque entre as Nações, povos e comunidades tem de merecer impiedosamente a nossa rejeição.   Este axioma pressupõe à partida, duas determinantes para a ação: *o repudio de blocos politico/militares e de guerra e  * a propulsão de confiança entre as Nações. Significa isto, o desencadear de uma ativa frente político - diplomática para o desanuviamento, o controlo e contenção nos gastos de estrutura militar e do armamento pela exorbitância quantitativa que demanda. Neste contexto, atendendo ao importante papel que qualquer religião exerce no seio de uma Nação, é de se ter em conta  que a sociedade humana atingiu uma maturidade e uma consciência longe do passado, onde a crença no sobrenatural se confundia com a organização sociopolítica e/ou Estado; quando um monarca só se legitimava com o beneplácito de um chefe religioso. Impõe-se por isso pôr termo a um certo reavivar da barbárie fanatizada do passado. Neste âmbito, cabe aos responsáveis religiosos, onde tal fenómeno ocorre, exortar que os ensinamentos da religião, mais do que controlar ou assumir-se politicamente, apontam basicamente na elevação ética do próprio crente e pela paz entre os homens. Chegados ao séc. XXI, é altura da Humanidade se conciliar consigo própria, enveredando pela via de dialogo e negociação para solucionar qualquer que seja a natureza da divergência de opinião. Trata-se de uma tarefa hercúlea, que além de boa vontade exige uma diplomacia não viciada e políticos impolutos e  descomprometidos. A globalização, a facilidade de comunicação e troca entre Nações, vieram determinar parâmetros inovadores para as economias em confronto - a capitalista e socialista. Esta situação acabou por ter influência na relação social e inerentes perspetivas no modo de vida. O que parecia incontroverso há umas décadas atrás, já é ou pode ser hoje posto em causa.