sábado, 24 de outubro de 2015

A GRANDE CAVACADA

  
                      A GRANDE CAVACADA - ainda as Legislativas de Outubro de 2015








Há uns de quem a história fala por feitos bons, de outros por feitos maus, de outras ainda a quem a história simplesmente despreza, não pela bondade ou maldade, mas pela sua inconsequência comportamental no âmbito da sua actividade.
O aspecto relevante digno de realce é a maior abstenção alguma vez ocorrida em eleições - 43% no plano nacional, e 88% em círculos no estrangeiro. A abstenção, significando não participação, reflecte em termos políticos um desinteresse no acto a que diz respeito- in casu- a eleição. Numa interpretação rebuscada ou radical poderia dizer-se que a abstenção significaria "confiança no status quo" ou seja, numa governação com a qual se concorda.   Mas não é assim, porque os factos demonstram o contrário. Na verdade, a afluência ao voto se impunha porque, independentemente ao seu apelo,  era evidente o confronto político que se resenhava com a esquerda a afrontar descaradamente a direita, esta representada pelo Governo PSD/CDS e acolitado pelo Sr. Presidente da República, o economista Cavaco Silva. A abstenção tem assim uma outra leitura - o desencanto da política seguida pelos dois protagonistas acabados de referir; quanto ao 1º, a restrição económica imposta às famílias e o fluxo de emigração entre outros desvalores da vivência social; tratando-se do 2º, a teimosia em desconhecer o sofrimento e o desencanto popular, obcecado por manter uma estabilidade governativa, porventura para o seu consolo e alardear uma presidência calma ou o receio de ser desacreditado perante os mandantes da UE. Há de facto complexos que são difíceis de ultrapassar com certo tipo de personalidades. Eis porque a abstenção, significando desencanto quanto ao funcionamento e descrédito dessas duas instituições políticas - o Executivo e particularmente o Presidente da República - se insere no quadro das respectivas e correspondentes responsabilidade.
Sendo grande a cavacada, é porém significativo assinalar que esses comportamentos institucionais tiveram a virtualidade de gerar a aproximação de partidos tidos como compondo e representando a esquerda em Portugal, fenómeno político que desde há muito não se via em Portugal (e que só uma vez se manifestou no passado, tratando-se na votação no Mário Soares para a Presidência de República contra o candidato da direita. Ficou célebre o simbolismo da recomendação do Álvaro Cunhal no sentido de se votar no Mário Soares, com a cara virada para a esquerda). Este é por isso um facto histórico, que andará sempre ligada à candidatura do socialista António Costa concorrente à da direita representado por Passos Coelho e acolitado por Paulo Portas.
Como nota terminal, importa apenas sublinhar que o Presidente da República, ao indigitar Passos Coelho para constituir governo, como leader do partido mais votado, bem sabendo e estando consciente da componente parlamentar maioritária da esquerda, acaba por prestar um péssimo serviço aos portugueses, atropelou a democracia e corre o risco de ser qualificado como o pior Presidente da República Portuguesa desde 1974, pelo desrespeito à Constituição e a parcialidade com que se movimentou durante o seu mandato. Senão vejamos: i) - Na composição do Conselho de Estado, excluiu conscientemente um representante do Partido Comunista, com assento do parlamentar e que não sendo maioritário, representa umas largas centenas de milhar de portugueses, dispensando assim a sua consulta, pelo que não se manifestou como o Presidente de todos os portugueses. ii) - Confinou o chamado arco de governação a partidos da direita, no que incluía também o PS, demostrando desconhecer um certo sentido da componente e o ideário de esquerda desse partido. iii) Numa altura em que é grande o melindre da situação política resultante das recentes eleições legislativas, sendo uma verdadeira situação nacional para consulta do conselho de Estado, escusou-se fazer uso da prerrogativa constitucional do artigo 145º, e) da Constituição. iv) Despresando o alcance e o significado político actualista do resultado eleitoral tropeçou na ideia de que foi sempre tradicional convidar o chefe do partido mais voltado para constituir governo. Se tal é viável em democracia, esta também demanda que a correlação de forças manifesta e manifestada  é factor que um consciente Presidente de República tem de ter em conta para um convite dessa envergadura. Esperemos que não haja mais cavacada.

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